terça-feira, 30 de agosto de 2011

24 - Sepultura

24 - Sepultura

- AQUILO É O QUE EU ESTOU PENSANDO? – SUSSURROU ALICE.

- Eu realmente espero que não... – respondeu Edward.

- Gente! – gritou Claire, que vinha correndo em nossa direção.

- Claire, onde você estava?! – perguntou Carlisle – Nós ficamos preo­cupados!

- Desculpem-me, mas eu estava em perto uma casinha e encontrei uma coisa que vocês não vão gostar – ela assinalou.

- Essa casa não fica naquela direção – Carlisle apontou para a nuvem de fumaça. Dois dedos apontando para o mesmo lugar –, fica?

- Eu receio que sim... Mas antes, deixem-me contar o que me aconte­ceu.

“Quando estávamos no táxi e os lobisomens atacaram, um deles arran­cou meu braço e eu fiquei desorientada. Depois disso o táxi bateu e explodiu. Eu fui arremessada para fora e quatro lobisomens me arrastaram para longe de vocês. É uma sensação estranhíssima ter o braço arrancado, não chegou a doer; apenas uma queimação, mas fiquei tonta e confusa. Consegui me des­vencilhar dos lobisomens tirando a gravidade ao redor deles. Recuperei meu braço e esperei-o curar. Enquanto esperava, senti o cheiro de vampiro e de lobisomens vindo de uma casa. Fui até a fonte e, através da porta consegui ouvir o nome Caius. Só pode ser um dos Volturi.

- Caius?! Claro que deve ser ele, mas o que Caius estará fazendo no Chile? Aqui não tem vampiros, pelo menos não sentimos o cheiro de algum. Caius não sujaria as mãos e sairia de Volterra por nada – Edward constatou – E mais, o que ele estará fazendo justamente na casa em que um vampiro foi executado?

- Eu tenho a pergunta que ganharia um Nobel – falou Emmett – O que Caius está fazendo com lobisomens? Ele os odeia!

- Eu tenho uma ideia – falou Alice – Que tal irmos até lá para desco­brirmos tudo? De acordo?

- Tudo bem; vamos. Mas tenham cuidado – ponderou Carlisle.

- Mas antes, o que era aquela parede enorme que eu vi? – perguntou Claire.

- Uma ideia de Benjamin para derrubar os lobisomens, que funcionou muito bem, diga-se de passagem – Benjamin tentou rir e Edward foi explicar todo o plano.

Corremos pela orla da praia até que as casas ficaram visíveis. Decidimos ir pela água que era bem mais seguro. Nadamos por um bom tempo até que Claire, que colocava a cabeça para fora d’água de tempos em tempos, nos in­dicou o lugar em que a casa estava e saímos da água como aquelas velhas ce­nas de cinema: a cabeça saindo da água devagar e o corpo aparecendo gradati­vamente. Os olhos de Edward brilharam com a ideia de atores que não saia da sua cabeça, mas preferiu ficar quieto.

O casebre ficava colado a outras casinhas mais simpáticas e algumas pessoas ainda permaneciam nas suas respectivas portas, conversando. Jasper deu a ideia de Zafrina criar uma ilusão igual ao ambiente em que os habitantes estavam, onde, porém, não apareceríamos, e nem eles nos escutariam; a ideia funcionou perfeitamente. Aproximamo-nos e o cheiro do casebre era uma mistura de madeira, tinta seca, lobisomem, vampiro vivo e queimado. O cheiro doce era inconfundível e tomava toda a atmosfera. Ficamos do lado de fora, mas conseguíamos ouvir toda a conversa do lado de dentro.

- Eu não entendo. Juro que não – a voz arrogante era sem a menor sombra de dúvidas de Caius. Conseguia até ver seu longo cabelo branco mo­vendo-se enquanto ele balançava sua cabeça; meus punhos se fecharam – E olha que eu já tive que entender coisas absurdas durante minha vida, como na vez que os Cullen... – ele fez uma pausa – Deixem para lá, expliquem-se.

- Senhor, ela conseguiu fugir – a voz era de um homem, cansada e ar­rastada – Ela fez uma coisa estranha e não conseguíamos nos mexer.

- Basta de desculpas, isso não importa. Eu sempre odiei lobisomens; eles são estúpidos de mais – ele falou como se os lobisomens não estivessem na frente dele.

- Desculpem-nos senhor...

- Vocês sabem do acordo. Se não seguirem minhas ordens estritamente como eu mandar, todos seus amiguinhos cachorros morrerão, assim como eu fiz no outro lado do oceano.

- Claro, claro, nós faremos – disse ele com urgência enquanto outro fungava. Pelo visto, o primeiro era o porta-voz.

- Ainda bem que a lua sumiu. Não consigo entender “cachorrês” e vo­cês fedem muito mais – um barulho de movimento pode ser ouvido; ao que parecia, Caius estava abanando a mão à frente do seu rosto – Graças aos céus que não preciso respirar, mas tenho se quiser falar, e como eu preciso. Tinha a filosofia de que não respirar era incômodo, mas vocês conseguiram extinguir esse pensamento...

- Senhor, eu conheço os Volturi e todo seu valimento no mundo vam­piro, porém, soube que todos os líderes andam juntos.

- Isso é uma meia verdade. Não somos siameses, entende? Vim parar nesse fim de mundo depois que ouvi uma conversa de Aro com lobisomens. Aí tive essa ideia boba, entende? Mas vocês fizeram o favor de não trazer a pessoa certa.

- Já dissemos senhor, a vampira que o senhor quer não estava no táxi que explodiu. Enganamo-nos.

- É claro que se enganaram. Não importa. Eu ordenei a vocês que era para está aqui sendo queimada a mãe da menina sequestrada. Não fiz todo esse plano para nada - choquei; quase saiu um gritinho do fundo da minha gar­ganta, mas Edward apertou meu braço levemente.

- Senhor, você pode explicar seu plano. Eu sei que já é a terceira vez que perguntamos, mas...

- Quarta – Caius cortou-o.

- Sim, quarta. Conte-nos e talvez possamos ajudar de alguma forma...

- Argh, certo. Bem, há aproximadamente quatro anos, fomos fazer um serviçinho com os Cullen. Tínhamos a justiça e a verdade ao nosso lado, mas eles nos humilharam na frente de dezenas de testemunhas, mostrando-os que nossa justiça não era válida. “Vamos levar testemunhas!”, frenesiou Aro; não sei para que o ouvi – gralhou Caius; tenho certeza de que ele levou metade da­quelas testemunhas, entretanto, nunca iria admitir isso – De lá para cá, fomos cha­coteados por vários vampiros, e tínhamos que aguentar calados. Quem diria? Os Volturi sendo chacoteados por reles vampiros! É verdade que eu mandei exterminar alguns desses, mas essa é outra história. Tive que superar e abaixar a cabeça para os Cullen, até que eu soube que a filha de Bella e Edward – ele cuspiu nossos nomes – tinha sido sequestrada. Pensei “o que eu posso ganhar com isso?”. Eu nunca deixaria barato o que eles fizeram comigo na nossa úl­tima visita, e eu tinha que fazer algo. Sou um dos líderes Volturi. Não posso ser contrariado. Aro sempre dizia que era para eu esquecer aquilo, todavia, eu po­dia ver no fundo dos seus olhos que ele falava aquilo por puro “protocolo”. Só dizia que teríamos que resolver o novo problema com os Cullen, mas isso não é da conta de vocês. Então, por sorte do destino, eu descobri quem se­questrou a menina e uma ideia explodiu na minha cabeça...

- Novo problema? Ele está apenas falando, não está pensando nisso – sussurrou Edward – Droga, ele deve ter séculos de prática nisso. Não consigo uma brecha para saber onde Renesmee está nem que problema é esse!

- ...Fui direto à fonte pegar o cheiro da menina para dar uma falsa pista aos Cullen, só não contava com Zafrina, Benjamin e Tia, fora aquela garota que vocês quase novamente trouxeram equivocadamente. Eu nunca a vi antes.

- É um plano muito engenhoso senhor – bajulou o lobisomem –, mas Aro não tem o poder de saber todos os pensamentos da pessoa que ele toca?

- É verdade, porém tive cuidado de ficar longe dele, por bastante tempo, para falar a verdade. Dizia que, o que ele quisesse saber, eu poderia falar. Ele não ia me obrigar a tocar nele.

- Realmente engenhoso senhor. Depois de tanto trabalho nós vamos nos esforçar agora. Basta a lua voltar a aparecer e nós traremos a vampira certa – o lobisomem parecia estar louco para sair dali.

- Eu sei que vão, mas tragam realmente a vampira certa – disse Caius com voz de comando; todos os Cullen e amigos, que estavam à espreita do lado de fora se olharam por um momento, mas um de nós foi o destaque –; quem deveria está queimando aqui era Bella e não essa egípcia muda.

A peruca de Tia caiu lentamente ao chão. Aquela frase pareceu vir do fundo de uma sepultura; só estava indecisa se era a sepultura de Tia, que es­tava literalmente morta, ou de Benjamin, que estava prestes a rachar.

sábado, 27 de agosto de 2011

23 - Vagalhão

23 - Vagalhão

OLHEI PARA TRÁS E CONSEGUI VER: O TÁXI QUE NOS SEGUIA, ONDE estava Claire, Jasper, Zafrina e Rose, estava inundado de lo­bisomens. Eles estavam por todos os lados; desde cima do carro, até presos às portas. Eles não eram tão grandes como Jacob e companhia, mas eram es­guios e curvilíneos. Lobos bípedes com uma avançada coordenação motora, ou o próximo passo evolutivo dos lobos de La Push. Consegui ver o rosto de Rose, que estava no banco da frente, se petrificar e sumir, quando um dos quinze lobisomens entrou no campo de visão. Enquanto o bando tentava abrir o carro como uma lata de sardinhas, outros dois pularam na sua direção, com as garras de aço à frente, fazendo-o sair da estrada, bater numa árvore e explodir. Um deles tinha algo branco na boca.

Em meio a gritos, o nosso taxista deu uma freada brusca e manobrou o carro até que ele ficasse de frente aos restos mortais do segundo táxi. Ele nem precisou falar. O amigo dele estava morto no meio daquelas ferragens.

- Sebastian! – esperneou o taxista, com as mãos ao alto.

- Corra! Saia daqui! Rápido! - Edward disse com urgência.

O taxista abriu bruscamente sua porta e disparou na direção contrária do premeditado acidente, mas antes, titubeou em direção a massa de ferro e fogo. Corremos até bem perto do carro e lobisomens nos atacaram de todos os lados. Um enorme e preto cravou os dentes no pescoço de Edward, que puxou seu corpo, deixando somente a cabeça enterrada ali. Benjamin contro­lou a água do mar e empurrou os lobisomens para longe, mas, a cada lobiso­mem que abatíamos, dois surgiam em seu lugar. Alice corria para todos os la­dos, fazendo com que os desorientados lobisomens batessem um nos outros.

Consegui ver Jasper do outro lado do táxi lutando contra três lobiso­mens. Parte do seu rosto estava rachada, mas ele corria e esmurrava os lobos. Zafrina simplesmente ficou parada. Seu grande tamanho chamava a atenção, como uma lâmpada em que os insetos são atraídos, e os lobos, quando chega­vam perto de mais, lutavam um contra os outros; projeto de suas visões. Jas­per chegou perto demais dela e ficou preso em sua visão, mas estiquei meu escudo até ele e, em agradecimento, pulou num lobisomem que corria na mi­nha direção. Estava me sentindo o dia 31 de fevereiro, totalmente inútil e ine­xistente, quando três lobos agarraram-me e tentaram me arrastar, provavel­mente o que fizeram com Tia, mas eu consegui me desvencilhar e, segurando a cabeça de um, usei-o como bastão e o joguei contra os outros dois. Um con­seguiu desviar, mas Edward o pegou e achatou-o contra o chão. Enquanto eles me agarravam, consegui ver seus olhos enormes e pretos, que transpare­ciam uma áurea gargântua de sangue. Um dos lobos que me atacou tinha o cheiro de Tia e Edward me olhou em concordância.

- Edward, onde está Claire? – gritou Carlisle quando apareceu, arras­tando um lobisomem pelo asfalto.

- Eu não sei! – ele pulou sobre um lobo e chutou seu focinho.

- Benjamin! – foi o aviso de Carlisle. Edward e Emmett, que apareceu com um sorriso que dava para ver até de costas, voaram até Benjamin, for­mando um escudo entre ele e os lobos. Benjamin levantou os braços e uma rajada de vento veio do mar em nossa direção, trazendo consigo areia e pe­dras, que batiam nos lobisomens desavisados.

- Segurem-se! – gritou Benjamin; fechou os olhos e apertou contra o peito o último resquício da presença de Tia, sua peruca.

Uma estranha e imprópria inquietude surgiu no ar. Alcancei uma árvore e a abracei, sentindo que aquilo não ajudaria muito. Jasper que continuava es­traçalhando os lobisomens correu e segurou Esme, que estava oculta por um muro, e cravou os dedos no chão. Todos os outros fizeram o mesmo, mas eu continuei pateticamente agarrada à árvore. Foi então que eu vi como tinha errado feio. Uma onda enorme, com no mínimo quinze metros, vinha em dis­parada em nossa direção. Parecia que uma mancha negra que corria consumindo tudo. O vento continuava a nos empurrar e os lobisomens que estavam soltos voaram para longe, fazendo-os bater em uma grossa e gigante parede de pedra de Benjamin tinha conjurado, formando uma fortaleza em forma de caixa que conteria a água que viria a escoar, e evidentemente, destruir a cidade, mas outros ainda mostravam resistência e lutavam futilmente contra o vento. O resto do carro se chocou contra a parede e pedaços de ferro retorcido voaram para todas as partes. Ali estavam vampiros agarrados ao chão e lobisomens voando. O vento redobrou sua força e todos os lobisomens estavam colados a gigante parede ao fundo. Uns tentavam sair da parede onde o impacto seria maior, mas Zafrina iludiu-os e eles, em vez de saírem pela tangente, iam mais para o centro. A areia da praia fazia uma névoa que parecia uma tempestade e tornava a visão mais difícil.

O vagalhão chegou. Quando ia derrubar Edward, Emmett e Benjamin, que continuava com os olhos fechados, ela se abriu dividindo-se, e não os atingiu (no momento lembrei-me de Moisés e o Mar Vermelho), mas definiti­vamente nos atingiu. Ao que me pareceu, a sua força era equivalente a de um tanque de guerra, mas não fez efeito contra nós e sim contra os lobisomens. A onda bateu e os empurraram contra a parede que nem ao menos tremeu; seus corpos foram dilacerados. A árvore em que eu estava agarrada tinha sido ar­rancada junto com todas as outras e eu bati na parede do fundo com tanta força que senti minha cabeça rachar literalmente.

A água é um elemento incrível. É tão... frágil, nem parece ter um poder tão grande. É maleável e bastante refrescante, mas depois do que eu a vi com aquela fúria, nunca mais a subestimarei. A água, quando entram em estado de agitação intensa, ímpeto de violência ou furor e encontra águas igualmente nervosas, fazem um colapso tão destruidor que deve ser temida até mesmo quando é apenas uma simples e inocente gota d’água.

Depois de retornarem ao mar, o rastro de sua força era altamente visí­vel. Árvores estavam tombadas (a que eu agarrara estava partida ao meio; não sei se foi do impacto ou eu que a apertei demais), uma montanha de lama co­bria todos nós, e o táxi agora virara apenas cacos negros espalhados aleatori­amente pelo chão e enterrados na lama. Pedaços de lobisomem estavam em todos os cantos, inclusive no cabelo de Rose, que estava mais perto da parede, e no meu.

- Argh! Tire isso do meu cabelo! – gritou Rose enquanto se levantava ensopada. Levantei-me com dificuldade e corri até ela; um dedo estava preso em seus cabelos – Obrigada Bella – disse ela com cara de nojo – Enquanto eu viver vou lembrar-me do dedo de lobisomem no meu cabelo. Deixe-me tirar os restos do seu – ela apalpava meu cabelo e tirou algo que eu preferi não sa­ber o que era. Nossos cabelos estavam com um cheiro insuportável.

- Se vocês estivessem usando as perucas, seus cabelos tinham sido pou­pados – gritou Alice enquanto se levantava – Minha roupa está arruinada – era verdade; não só estava totalmente molhada como tinha um rasgo enorme – Lobisomens idiotas.

- Aposto que os vampiros que estiverem na Oceania conseguirão sentir o cheiro de lobisomem que essa água está levando – brincou Emmett, que estava totalmente seco. Parecia que apenas tinha sido pego pelo vento. Ed­ward e Benjamin também estavam.

- Invejo você agora Emmett – eu constatei – Queria estar seca.

- Nem me fale! – falou Rose.

- Tudo bem com todos? – perguntou Edward arrumando os cabelos.

- Tudo, eu acho. Mas onde está Claire? – Carlisle olhou para os lados mesmo sabendo que ela não estava aqui; pelo menos, não dentro dessa caixa gigante – Benjamin, obrigado, mas agora você pode descer esses... muros?

- Claro Carlisle – Benjamin apenas levantou a mão e as gigantes paredes desceram ao chão, com um ruído estranho, como se nunca tivessem existido. O resto da cidade estava intacto, como se não tivéssemos passado por ali.

- Alguém pode me dizer o que aconteceu? – reivindicou Edward.

- Não sabemos, estávamos seguindo seu táxi quando algo fez o carro balançar. Quando olhamos, os lobisomens saíram do nada e pularam no carro. Ai aconteceu o que vocês viram – explicou Rose.

- Não aconteceu nada com o nosso táxi. Vimos os lobisomens escondi­dos e pedimos para o taxista desviar do caminho, por isso demoramos um pouco – ofegou Jasper, abraçada a Esme – Vocês nem queiram saber como era o temperamento deles...

- Eu estou vendo. Apenas sangue e morte. E Claire?

- Não sabemos Edward. Ela estava no bando traseiro, do lado es­querdo... – falou Zafrina.

- O lado que os lobos atacaram quando empurraram o táxi? – averiguou Edward.

- Exatamente – concluiu Zafrina.

- Humm. Eu acho que a consciência deles é diferente na forma de lobi­somem.

- Ou seja: zero! – ralhou Alice olhando para sua blusa e ajeitando os ca­belos.

- Intrigante – completou Carlisle.

- Ufa! Não sou a única pessoa com problemas com lobisomens aqui, não é? – falou Alice, jogando as mãos para o céu. Nele havia uma nuvem enorme que encobria a lua e, a uns três quilômetros, uma nuvem de fumaça subia ao céu, exatamente como um enorme dedo apontando um sinistro lugar. Não dava para ter certeza, mas eu achava que a cor da fumaça era um símbolo que não era oportuno naquela hora: um roxo penetrante e escuro.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

22 – Rádio

22 – Rádio

A PERUCA DE TIA ESTAVA IMÓVEL E FALECIDA AO CHÃO FRIO, EN­quanto Benjamin voltava a consciência, depois das visões de Zafrina. Alice estava com as mãos no rosto, perplexa. Sem sua visão dos perigos que en­frentaríamos tudo que acontecia era duplamente horripilante. A surpresa nunca foi o hobby de Alice, ironicamente.

- Benjamin, controle-se! – gritou Edward, segurando-o pelas costas.

- Não! Tia! – ele ainda tentava se debater, mas a cada investida contra Edward, ele acertava uma árvore, graças às visões de Zafrina.

- Edward! – gritou Carlisle. Ele e todos os outros Cullen vinham cor­rendo até nós. Claire estava com uma expressão de dor – Edward, o que aconteceu?

- Jasper, acalme Benjamin, rápido! – Jasper flutuou até Edward e o clima ficou ameno e tranquilo.

- Ele está surtando – Jasper falou baixinho.

- Eu sei – retrucou Edward em resposta, soltando Benjamin – Carlisle, nós fomos atacados por lobisomens, quer dizer, não foi bem assim...

- Nós também! O que aconteceu aqui?

- A pressão ficou muito forte e nós ficamos presos...

- Culpa minha, desculpe... – falou Claire.

- Não se desculpe Claire; se você não tivesse feito isso, nós não conse­guiríamos escapar – consolou Carlisle – Continue Edward.

- Quando a pressão voltou, os lobisomens atacaram e levaram Tia.

- Meu deus! – exclamou Esme.

- Quando nos separamos, percebemos que estávamos sendo seguidos. Tivemos que desviar uma parte do trajeto e fomos parar aqui nessa floresta, só que havia lobisomens e eles nos atacaram. Claire ficou nervosa, nunca ha­via lutado contra lobisomens, e tratou de tirar a gravidade, mas não só ao re­dor deles e sim, por quase toda a floresta – enquanto Carlisle relatava, Claire era fuzilada pelo chão – Fugimos e viemos parar aqui.

- Foi por isso que ficamos presos.

- Desculpe Edward, eu fiquei nervosa! Eles eram enormes e eu me des­concentrei. Quando percebi que tinha expandido por uma área grande demais, coloquei a gravidade de volta...

- Não se preocupe – interrompeu Edward – Então, tinha lobisomens nos seguindo também, e eles atacaram quando a gravidade voltou.

- A culpa é minha – falou Claire.

- Claro que não, a culpa é minha – remendou Benjamin, que permane­ceu calado durante a conversa, olhando o chão – Eu poderia muito bem ter nos protegido, mas fiquei tão chocado que não fiz o que deveria.

- Benjamin, não se culpe. Se tivermos que culpar alguém, devemos cul­par esses lobisomens.

- O que faremos agora? – perguntei com um déjà-vu; essa frase estava tornando-se um incômodo slogan.

- Temos que ir atrás de Tia, e podemos procurá-la ao mesmo tempo em que procuraremos Renesmee – disse Carlisle, e um calor subiu até minha ca­beça.

- Ótima ideia Carlisle – finalizou Edward.

- Ok, obrigado por isso Carlisle e me desculpem pelo meu jeito. Eu perdi a compostura e estou envergonhado – disse Benjamin ao se levantar e ajeitar sua roupa.

- Perdoe-me Benjamin – desculpou-se Zafrina.

- Não, você fez isso para ajudar e não...

- Tudo bem, tudo bem, tudo bem. Chega de desculpas – cortou Alice – Vamos nos mexer.

- Pegamos um táxi novamente? – perguntei.

- Acho melhor irmos andando mesmo. Já está ficando tarde e as pes­soas estão deixando as ruas – concluiu Edward.

- Você está bem Benjamin? – Carlisle tocou em seu ombro.

- Estou. Vamos, temos duas pessoas para encontrar agora, não é?

Apesar da tentativa de animação, eu não me senti nada confortável.

As ruas estavam desertas e se escondiam debaixo da névoa que pairava por todos os lados. A lua cheia nos seguia enquanto andávamos e a quietude era um pouco alarmante, fazendo tudo isso, o clima de um filme de terror per­feito. Filme de vampiros, que máximo! Os lobisomens que levaram Tia não eram assim tão inteligentes quanto pensávamos, apenas tiveram sorte, pois seus rastros estavam por toda a parte; o de Tia, que deve ter sido levada por uns três lobisomens, estava fazendo uma trajetória curvilínea. Praticamente um ziguezague pela cidade. Essa cidade provavelmente não era mais San­tiago, pois era litorânea. Descobrimos com uma placa que dizia a direção da praia. Os lobisomens estavam nos levando a algum lugar e eles eram bastante rápidos e ágeis, tenho que admitir.

- Nós poderíamos segui-los com muita facilidade – defendeu-se Alice enquanto passávamos por três casinhas amarelas, como pedaços de torta cor­tados, mas juntos. A floresta tinha ficado ao longe e parecia agora um bolo cor de breu achatado. As pessoas que estavam nas ruas olhavam-nos com cu­riosidade, porém continuamos andando e fomos esquecidos.

- É claro que poderíamos, mas Carlisle pensou a mesma coisa que eu. Isso pode ser uma armadilha – Edward falou.

- Quem quer que esteja por trás disso, pode estar usando os lobisomens como marionetes em seu plano. Devem estar pensando que correríamos ime­diatamente atrás de Tia e assim, eles poderiam estar nos esperando com algo, já que estaríamos tão eufóricos – completou Carlisle.

- Falou a voz da consciência e da razão – ironizou Alice.

- Argh! Cansei dessa peruca! – reclamei jogando a peruca em um tam­bor de lixo.

- Bella, isso é um disfarce! – disse Alice colocando as mãos na boca.

- Eles já sabem que estamos aqui, então pouco importa tudo isso.

- Urgh, certo – ela repetiu meu gesto e tirou sua peruca, jogando-a no lixo – Os aparelhos ortodônticos já eram mesmo, então não importa.

Todos jogaram suas perucas, barbas e outros adereços no lixo com muito agrado (as pessoas paravam de fazer o que estavam fazendo para apre­ciar nossa descaracterização; dois mendigos foram até as lixeiras e se divertiam com as perucas), menos Benjamin, que guardava a peruca de Tia como se fosse um tesouro inestimável. Edward também percebia isso mesmo sem ter acesso privilegiado à mente de Benjamin. Estava claríssimo. Quando dobra­mos a esquina, três táxis estavam estacionados no que parecia um ponto de táxi. Os motoristas estavam sentados em cadeiras de dobrar com um rádio ligado entre eles. Conversavam alto e nem pareciam cansados, sendo que já era bem tarde; seus uniformes estavam amarrotados e suados. Edward falou com o mais próximo, em espanhol e ele respondeu em um inglês carregado.

- Sim, eu e Sebastian falamos inglês, mesmo com nosso sotaque carre­gado – ele riu e apontou ao colega mais distante, que parou de conversar e olhou para nós. O outro tinha um olhar vago, com certeza sem entender nada.

- Que bom – Edward juntou as mãos – Em que cidade estamos?

- Concepción – ele respondeu com um tom de orgulho.

- Certo. Precisamos de três carros já que estamos em grande número.

- Sem problema. Para onde querem ir?

- Para falar a verdade, eu não sei dizer, só sei o caminho, entende? – Edward coçou a cabeça. Ele interpretava um humano perfeitamente. Um ator. Não, você não é um ator! Ele riu baixinho.

- Claro que entendo. Bem, podemos ir? – ele se moveu e falou em espa­nhol ao amigo, que aceitou o trabalho rapidamente.

Mais uma vez, tivemos que nos separar, mas o táxi em que estava eu, Ed­ward, Alice e Benjamin, ia à frente, guiando os outros. Edward sentou no banco da frente para poder ter uma visão melhor da rua.

- Senhor, vocês não tem medo de ficar na rua até essa hora? – pergun­tou educadamente Edward, tentando tirar a atenção do taxista.

- Não, para falar a verdade e nem está tarde, apenas as pessoas gostam de se retirarem cedo por aqui, pelo menos as dessa rua – ele olhou um casal de idosos que estavam do outro lado da rua; a velhinha tricotando e o velhi­nho tocando violão – Já estou acostumado com isso, e todos dessa região nos conhecem, então, eu fico um pouco mais tranquilo. E, acima de tudo isso, eu tenho que trabalhar, não importa a hora, não é? – ele sorriu e olhou para Ed­ward, que respirava profundamente, tentando achar o rastro dos lobisomens.

- Claro que sim – ele retribuiu o sorriso e voltou-se para a cidade que passava rapidamente – Vire a esquerda, por favor – a esquerda era uma rua que margeava a praia deserta e serena, com uma lua enorme e brilhante no seu fundo. As casas tinham ficado ao longe e a extensão da praia aumentava à medida que avançávamos.

Durante algum tempo foi assim: Alice olhando para as unhas, Benjamin olhando desesperadamente pela janela e fazendo o ar entrar no táxi com mais facilidade, o taxista perguntando se estava tudo bem, Edward guiando o táxi pelas escuras ruas chilenas e eu cogitando lugares e situações onde Renes­mee estava. Essa rotina durou por mais quatorze minutos, vinte e oito segun­dos e setenta e sete milésimos de segundo até que o celular de Alice tocou, mas rapidamente a ligação foi cancelada. Quando ela retornou, a mensagem O celular está desligado foi ouvida por todos nós (menos o taxista, claro).

- O que será que aconteceu? – perguntou Alice.

Edward? É impressão minha ou o cheiro de lobisomem está muito mais forte?

- É verdade... – ele se virou para mim com o rosto amarrado e olhou através do vidro traseiro. Em seu rosto, o pânico, o medo e o desespero transpareceram assustadoramente.

sábado, 20 de agosto de 2011

21 – Patogenia

21 – Patogenia

- CHARLIE, EU TENHO UMA “MEIO BOA” NOTÍCIA – ponderei, enquanto escutei Charlie engolir em seco.

- “Meio boa”? – sua voz saiu rouca.

- Isso pai. Eu não estou em Forks – tinha que ser cautelosa para ele não enfartar.

- E onde você está?

- Bem, nesse momento eu estou no Chile.

- CHILE! – ele gritou – O que você está fazendo aí?

- Acalme-se pai... Eu, ou melhor, todos os Cullen estão aqui. Nós recebe­mos uma pista de Renesmee.

- UMA PISTA!

- Pai, por favor, eu era quem deveria está histérica e estou zen – menti.

- Ok, desculpe-me, mas é muito difícil saber de tudo isso por telefone.

- Eu sei...

- Quando vocês descobriram essa pista?

- Ontem pela manhã e...

- Por que você não me contou – agora a culpa era minha.

- Porque nós tínhamos certeza de que, se contássemos você comanda­ria o FBI para ir até o Chile...

- É claro que eu faria isso!

- Então?! Nós já conversamos. As pessoas que levaram Renesmee também são especiais. Armas, tanques, bombas, tudo isso seria inútil.

- Ah... – ele falou e eu suspirei.

- Então pai, fique quietinho aí em Forks que nós vamos tentar resolver tudo.

- Eu não tenho dez anos – Charlie, sempre teimoso.

- Mas parece. Tchau pai, ligo assim que souber de qualquer coisa.

- Qualquer coisa?

- É. Qualquer coisa.

Tirei o telefone do ouvido, mas ainda consegui ouvir Charlie respirar e murmurar “Qualquer coisa”.

Estávamos em Santiago. Não trouxemos muitas coisas (apenas os documen­tos; Alice disse que, se quisermos roupas, compraríamos aqui – os comissá­rios, aeromoças e todos da companhia aérea ficaram muito intrigados), então ficamos parados ao relento diante do aeroporto. Eu particularmente não tinha muita ideia do que fazer e esperava que alguém tivesse, caso o contrário, fica­ríamos sem direção; atirando no escuro. Olhei ao redor e me deparei com rostos de pura incerteza. E agora?

- Ui, alguém mais está sentindo? – indagou Benjamin, torcendo o nariz. Alice, que estava vendo um mapa a alguns metros à frente, tentando identifi­car as ruas nos seus respectivos desenhos no mapa, parou para olhar ao redor, como se pudesse ver o cheiro. Olhava de um lado ao outro e marcava algo no mapa com uma caneta.

- Sentindo o que? – perguntou Carlisle. Olhei novamente ao redor e Benjamin também estava torcendo o nariz.

- Esse cheiro de cachorro molhado?

- Cachorro molhado? – não estava sentindo esse cheiro até que uma brisa lambeu nossos rostos e o cheiro veio em cheio. Nem se comparava com o cheiro de Jacob, seja porque eu praticamente estava acostumada com o seu cheiro, ou porque aquilo não era o cheiro de metamorfos.

- Não, eu tenho plena certeza de que não é um metamorfo – falou Edward.

- Argh! Esse cheiro vai ficar impregnado pelo resto dos tempos na mi­nha roupa! – gritou Alice.

- Donde ele deve está vindo? – perguntei.

- Bella, isso é o cheiro de lobisomens – Edward falou sem rodeios; gelei – Você não conhece porque você nunca sentiu. Quando voltamos ao chalé, a chuva já tinha reti­rado quase todo o cheiro, então...

- Então estamos na pista certa, não é?

- Ao que parece, sim – ele encarou o chão.

- Mas os lobisomens não tinham quase sido extintos? – lembrei-me da história de Caius, de que ele praticamente aniquilou todos os lobisomens da Europa.

- Aí é que está, amor. Caius praticamente aniquilou todos os lobisomens da Europa – depois do enfoque, percebi a ideia que ele queria transmitir, mas ele a pronunciou – Ainda existem lobisomens pelo mundo.

- Benjamin, como você sentiu o cheiro antes de nós?

- Bella, o ar para mim é muito mais apurado – ele respondeu com um sorriso – por isso senti o cheiro bem antes. Para falar a verdade, desde o aero­porto, consigo sentir o cheiro bem levemente, todavia, aqui está muito forte. Mas, se eu não estiver enganado, esse cheiro é, vamos dizer fresco no sentido de novo. Não pertence a esse lugar há tanto tempo.

- Então estamos na pista certa, definitivamente – concluiu Edward – Teremos que seguir o cheiro para ver o que conseguimos.

- Será que é uma boa ideia? – hesitou Rose.

- Bem, vamos dividir assim os grupos: eu, Bella, Alice, Zafrina, Benja­min, e Tia, evidentemente, por um lado; e Emmett, Carlisle, Jasper, Esme, Claire e Rose por outro. Assim teremos um poder físico de cada lado, um ex­periente lutador – Edward olhou para Jasper – e poderemos nos defender melhor, não acham? – todos balançaram as cabeças em concordância, mas Claire e Benjamin, ambos com o poder físico, estavam mostrando-se orgulho­sos por ganhar tanta (e merecida) importância.

Com os grupos separados, depois de uma rápida despedida, já que Alice e Jasper se separariam, seguimos aquele aroma horrível. O cheiro, que estava vindo de todos os lados, cruzava as casinhas amarrotadas e coloridas, em meio a um turbulento trânsito. Várias pessoas olhavam-nos com curiosidade e decidimos andar de táxi. Edward disse ao taxista que queria fazer um tour pela cidade e ele, sem pestanejar, aceitou de imediato. Quando a pista estava bem forte, acabamos entrando numa es­pécie de parque, onde as árvores eram grandes e o táxi não poderia entrar, então achamos melhor ir andando. Andando não, correndo. Disparamos pela floresta.

- O cheiro está mais forte aqui, ui – ralhei.

- Quem diria. Lobisomens no Chile! Queria ver a cara de Caius se desco­brisse isso.

- Eu também – falou Alice, com os cabelos presos sendo empurrados pelo vento – Ele surtaria, com certeza.

- Alice, eu também acho que seja por isso. Com certeza é – disse Ed­ward, lendo os pensamentos de Alice.

- Eu estava especulando se essa é uma das razões de eu não conseguir enxergar o futuro – Alice respondeu nossas expressões de dúvida – Os lobi­somens, assim como os metamorfos, são muito instáveis. Mesmo mudando somente na lua cheia, eles, na forma humana, são incontroláveis e impulsivos; posso até chamá-los de chatos, além de cheiraremmuito mal, diga-se de passa­gem. Se eles são assim na forma humana, imaginem quando se transformam. Por isso não consigo vê-los.

- Então – trabalhei – Renesmee está com lobisomens? – a ideia, depois de dita, parecia repugnante.

- Ao que parece, sim – respondeu Edward –, e é isso que me preocupa, mas não podemos ter certeza, já que o futuro de Renesmee também é cego para Alice. Eu sei que ela é vampira, mas lobisomens podem estraçalhar um vampiro, se pegá-lo desprevenido, e existem algumas formas.

- Primeiramente, nós somos vampiros... Nós podemos acabar com lobi­somens não?

- Bella, lobisomens são ágeis, perigosos, não se importam com o que acontecerá, apenas querem estraçalhar o que estiver pela frente. Eles se asse­melham com os recém-nascidos por isso. E tal como, nunca os deixe pegá-los pela retaguarda. Nunca.

- Tudo bem. E quais são essas formas de pegar um vampiro despreve­nido? – não conhecia formas de pegar um vampiro desprevenido.

- O sangue humano tem muitas patogenias. Determinadas doenças nos afetam também, como leucemia, hepatite, aids e mononucleose. Se ingerirmos um sangue com qualquer uma dessas doenças, ficaremos muito enfraquecidos. É como se um humano consumisse um alimento estragado, fora da validade, só que nos vampiros isso é bem pior. Se formos pegos quando ingerimos uma dessas doenças, podem nos estraçalhar com uma facilidade tremenda. Já que o sangue é que traz nossos nutrientes, ele, quando doente, nos deixa doente. Você entendeu?

- Claro, só estou surpresa como tudo isso. Não sabia que até mononucle­ose causaria tantos problemas.

- Você nem imagina. Se não ficarmos reclusos nesse tempo, é só um empurrãozinho e nós já éramos – estremeci só de pensar nisso e passei a olhar as árvores, cada vez mais altas e juntas; Benjamin não parava de olhar para o alto.

- Será que Renesmee foi forçada a beber um sangue contaminado?

- É uma hipótese que não deve ser descartada...

- É impressão minha ou o cheiro está ficando mais forte? – indagou Alice mudando de assunto.

- Talvez, mas também pode ser porque as árvores estão mais juntas – especulou Edward também olhando para o alto.

Sem dúvida nenhuma o cheiro estava muito mais forte e as árvores mais juntas, como uma concha protegendo o chão, que tinha folhas de todas as cores, do verde limão ao caramelo, voando para longe enquanto passáva­mos.

- Esperem! – alarmou Edward – Tem casas aqui perto; vamos cami­nhando. Não correremos o risco de sermos vistos.

Passamos a caminhar pela negra floresta e começamos a perceber como as árvores eram fantasmagóricas. Gigantes silenciosos nos vigiando e lan­çando aquele cheiro de lobisomem por todos os lados que fazia o caminho uma flagelação. Ainda nem tinha escurecido por completo, mas a lua brilhava incandescente e cheia, como um espelho mal feito do sol, mas mesmo assim, mantendo sua beleza ímpar.

- Eu moro em florestas há séculos, mas essa é bem... estranha – pronun­ciou-se Zafrina, que, assim como Benjamin, vez e outra tocava nos grossos troncos de árvores.

- Eu sei o que quer dizer, Zafrina – disse Benjamin – Acho que esse solo, que é bem diferente do solo da Amazônia, faz com que esse país seja diferente – juro que não via diferença – Já que aqui existe o encontro de pla­cas tectônicas, que deram origem a Cordilheira dos Andes, cá é meio instável. Eu praticamente sinto a terra chacoalhar aqui.

- Fiquem atentos! Têm alguns perto daqui – cochichou Edward.

- Como você sabe? – perguntei trêmula.

- Consigo ver seus pensamentos.

- Ver?

- São apenas imagens disformes e brilhantes. Só vejo árvores e relances de nós.

Eu poderia não estar sentindo as placas tectônicas moverem-se debaixo dos meus pés, nem os lobisomens mais perto, mas eu senti uma pressão ao nosso redor tão forte que nem conseguia respirar. Até meus movimentos es­tavam mais duros.

- Cuidado! Eles estão a...! – tentou gritar Edward antes de nos petrificar­mos, mas era tarde demais

- O que... estará... acontecendo? – pronunciou Alice enquanto a pressão aumentava.

- Claire! – Edward conseguiu dizer.

Nossos movimentos cessaram e eu entrei em pânico. Era como se o ar estivesse sólido. Concreto, era a melhor descrição. Não sabia a extensão da influência do poder, então imaginei como os humanos estariam respirando e se ainda estavam inteiros. Edward, que estava congelado e virado para mim, tinha uma expressão assustadora. Parecia que seus olhos estavam lutando de­sesperadamente para olhar ao lado. Senti meus membros rachando, tamanha era a força que nos segurava. A pressão começou a nos puxar ao chão, um imã gigantesco no centro da Terra. Meus braços estavam indo de encontro ao chão lentamente, como se o oxigênio estivesse empurrando-os com uma força hercúlea. As folhas e os insetos que planavam lentamente por ali foram esma­gados com uma facilidade terrível e se não fossemos tão resistentes, nós serí­amos como aquelas folhas.

A pressão sumiu tão rápido quando chegou, e sumiu tão rápido que a inércia fez todos caírem no chão, e o barulho de pedregulhos ecoaram pela floresta, junto com o som de pisadas no solo. Parecia que as árvores estavam se debatendo.

Aquela força me deu vertigens, porque vi manchas pretas em meus olhos, movendo-se rapidamente e um barulho que perfurava o solo. Respira­mos de alívio enquanto relaxamos nossos braços quando o cheiro de lobiso­mem, tão forte que parecia que eles estavam no nosso lado, ou até mesmo, lambido nossos rostos, consumiu nossos pulmões.

- Não! – gritou Benjamin olhando ao redor. O chão estava completa­mente arranhado e machucado, com depressões enormes feitas por garras igualmente enormes. As folhas tinham sido jogadas para a tangente, formando um estranho círculo nu de terra em nossa volta; um furacão que tinha parado exatamente aí. Quem fez aquilo tinha planejado muito bem seus passos, por­que a sequência de depressões estava numa ordem sincronizada, que termi­nava no vampiro mais distante de todos; o mais afastado, que agora não es­tava mais lá. Sua presença foi substituída por marcas que concluíam que ela foi arrastada por vários lobisomens. Benjamin tentou correr, mas Edward foi mais rápido e o segurou.

- Zafrina, ajude-me! – gritou Edward, e Zafrina voou até eles e Edward soltou Benjamin, que ficou estagnado, gritando “Devolva minha visão!”. Eu estava paralisada ao lado de Alice, que fez o favor de colocar em palavras a pergunta que estava em nossas cabeças.

- O que aconteceu com Tia? – ela falou e olhou para mim, com o rosto petrificado. Seu falso aparelho ortodôntico, ou o que restava dele, brilhou com a luz da lua.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

20 – Magistral

20 – Magistral

- ARGH! ALICE, ESSA PERUCA É HORRÍVEL!

- Esse é o ponto. Pare de se mexer para que eu termine logo isso.

Todos estavam no quarto de Alice sendo “horripilados” pela própria, parte do plano de disfarces. Não poderíamos usar óculos escuros enormes, capas e penteados diferentes? Tínhamos que usar perucas, lentes de contato (que derreteriam de tempos em tempos), e até aparelhos ortodônticos (só Alice conseguia colocar minúsculos pedaços de ferro nos nossos dentes). Fui a última a ficar pronta porque fiz um escândalo quando vi Emmett, que foi o primeiro a ficar pronto com aquilo. Alice usava uma longa peruca cor de mel, enquanto ela ajustava a minha preta comprida. Estava fazendo um coque no alto da cabeça com dois palitinhos, estilo nipônico.

- Alice – perguntou Edward. Apesar de todo aquele aparato, ele ainda continuava lindo. Usava uma peruca loira estilo surfista, lentes de contato azuis, barba (estranhíssima) e aparelho – Esses projéteis de aparelho dentário não irão derreter?

- Vão, mas como são feitos de aço, demorarão o tempo suficiente.

- Eu particularmente acho isso uma enorme perca de tempo – reclamou Rose, que usava uma curta peruca vermelha.

- Concordo plenamente com você Rose – resmunguei – Poderíamos muito bem está indo ao Chile em vez de ficar aqui fazendo... isso.

- Não poderíamos, não. Já liguei para o aeroporto e o voo só sai daqui à uma hora.

- Argh, argh!

- Querida – perguntou Esme (querida? Eu queria matar Alice agora) – Onde você conseguiu essas perucas?

- Eu comprei claro, quando saí mais cedo. Não sou tão prevenida assim para ter perucas no meu closet. Se bem que é uma ideia.

- Oh deus! – joguei os braços para cima. Mais uma ideia patenteada por Alice Corporação – Zafrina, eu te invejo.

- Ah, desculpe Bella... – Zafrina não foi modificada por Alice. Primeiro porque suas roupas amazônicas já eram um bom disfarce. Segundo que ela simplesmente disse que não ia se sentir bem, Edward cochichou “não insista” sobre o ombro de Alice e pronto. Bam! Ela estava livre de tudo. Juro que de­pois de ir ao Chile, vou direto para a Amazônia.

Uma pontada de esperança boiava como um pontinho mínimo no oceano de preocupações; era inegável que, mesmo sem ter absoluta certeza do paradeiro de Renesmee, ter uma luz no meio da escuridão das minhas incertezas era bastante reconfortante. Uma chama de isqueiro dentro de um iceberg; não chegava a resolver algo nem ser confortável, mas dava forças para continuar. E com cada um que estava ao meu redor desse avião fatídico, eram como mais isqueiros que lutavam para derreter aquele – até o momento – imbatível iceberg (será que não era a geleira toda?).

Durante todo o trajeto, coloquei minha mente no modo Piloto Automá­tico. Fechei minha mente, o que fez Edward estranhar, mas não contestar; cer­rei os olhos e vaguei. Vaguei por tantos lugares que nem percebi o tempo pas­sar.

- Acho que esses disfarces não foram muito úteis, Alice. Nosso cheiro ficou por toda a parte, e não sei se você recorda, mas existe um deles envolvido em tudo isso que deve estar nos vigiando – enfatizou Edward aos sussurros.

- Tá, tá, tá. E eu não sei se você recorda, mas eu disse que eles eram ape­nas para atrasá-los, ok? – contra-atacou Alice.

- Humm. Isso nos atrasou mais que a eles – bufou Edward

Um minuto de silêncio se seguiu, mas percebi que a respiração de Edward se tornara mais profunda e concentrada – no Piloto Automático, conseguia ficar mais sensível as sensações a minha volta. Senti uma leve mudança na direção do vento, como se ele tivesse mexido a cabeça e olhasse para mim agora.

- Zafrina toque em Bella, por favor. Quero ver uma coisa... – seu tom era de curiosi­dade.

- Como assim? – senti sua respiração de aproximando.

- Crie uma visão. Tente.

Não ouvi mais nada. Somente senti a mão de Zafrina encostando-se à minha. Meu escudo estava em plena forma.

- É claro que está querida.

Congelei. Como Edward leu meus pensamentos se eu tinha fechado minha mente?

- É isso que eu estou me perguntando. Você fechou sim sua mente, mas eu consigo ouvir algumas coisas.

- Será que meu escudo está falhando? – choquei e falei alto demais. Algu­mas pessoas viraram-se para me olhar, mas felizmente, elas colocaram fones de ouvido. A única vantagem que eu tinha estaria danificada?

- Pelo o que eu estou vendo, não. Ao que me parece, você desenvolveu uma adaptação do seu escudo – ele me olhava com curiosidade.

- O que você disse Edward? – Carlisle perguntou.

- Acho que Bella desenvolveu outra forma do seu escudo.

- Como assim?

- Agora eu só estou ouvindo eu mesmo na mente dela, ou seja, só o que está se passando agora. Só consigo ouvir o que ela está pensando, o que está na mente dela agora, não no subconsciente. Ouço o que ela “fala” para si mesma, não o todo. Eu acho que ela consegue bloquear determinadas partes de sua mente.

- Impressionante! – Carlisle sorriu. Eu fiquei estarrecida liberei total­mente meu escudo.

- Eu não sei como fiz isso!

- Agora eu consigo ouvir tudo perfeitamente. Você estava super concen­trada quando eu notei. Tente novamente.

Olhei para frente e as costas da poltrona me encararam de volta. Não sabia o que fazer, não tinha em que me apoiar para conseguir aquilo. Respirei fundo e entrei novamente no Piloto Automático. Consegui perceber levemente uma fina película encobrindo parte do meu cérebro. Tentei puxá-lo e ele obe­deceu cegamente.

- Isso! Você conseguiu! – comemorou Edward. Senti-me aquelas crian­ças de três anos em que o pai solta foguetes só por elas chuparem o dedo, mas era realmente impressionante.

- Nossa, é incrível. Não sabia que podia fazer isso!

- Bella, nossos poderes vão se desenvolvendo ao longo dos anos. Você só tem cinco anos – estava certa com a história do pai, mas errei na idade –, seus poderem devem amadurecer um pouco mais, se é que isso é possível.

- Realmente incrível – concordou Carlisle.

- Ok; vou faz um teste – soltei meu escudo e Edward relaxou.

Quero que você diga o que eu estarei pensando. Quando eu “disser” valendo.

Edward apenas balançou a cabeça. Zafrina e Carlisle ficaram imóveis, analisando cada detalhe.

Valendo! Você não sabe o que eu estou pensando (Eu odeio essa peruca idiota e quero esganar Alice).

- É... Eu consegui ouvir “Você não sabe o que eu estou pensando” repe­tidas vezes. Qual era o teste?

- É sério, você não ouviu mais nada?

- Não...

- Eu tentei bloquear uma parte. Eu fiquei pensando “Eu odeio essa pe­ruca idiota e quero esganar Alice” – ela bufou.

- Que incrível! Amor, esse seu poder pode ser muito útil!

- Muito útil mesmo – concordou Carlisle.

- Isso sim seria uma jogada magistral – finalizou Zafrina.

Um dos passageiros, um gordo que me lembrava J, estava atento a nossa conversa, e Edward falou para ele:

- Estamos ensaiando nossas falas.

O passageiro virou rapidamente o rosto e começou a ler um jornal.

Edward, você pegou a doença da sua querida irmã? Frisei isso tirando total­mente meu escudo, para que não tivesse dúvidas de que ele escutaria.

Eu realmente não sei quantas escalas tivemos e muito menos onde está­vamos. (- Querida, estamos em... – Não quero saber! Avise-me quando esti­vermos no Chile, só isso!). Com tudo aquilo acontecendo, digo, toda aquela dis­tração, o fardo parecia um pouco menor. Tinha uma teoria de que conseguia isolar uma parte do meu cérebro que estava desgastando-o há tempos. Tentei, mas não consegui isolar a solidão, pois não se isola a solidão. Ela já é por si só isolada. Isolada é praticamente um sinônimo de solidão. Enlouqueci.